Morto Vivo
Com meia vontade. Sejamos sinceros. Às vezes a gente esta meio. O vizinho que cortou o barato da rede. Tão discreta navegava. Pescou-me. Mas eu precisava ir. Os meus miúdos já deviam estar me esperando. Uma sombrinha preta cheia de estrelas coloridas. Canetas. Gizes. Papéis Materiais carinhosamente preparados. Vai professora. Não vou. Vou eu mesma. Eu com uma obstinação de ser feliz. “De pasalo lindo”. Fui. Convicta. Processei meus mandamentos. Não me incomodarei. Não incomodarei o outro. Amarei a mim mesma. Amarei os miúdos. Cheguei. Projeto extracurricular de teatro na escolinha do Canto da Lagoa. A escola não tem espaço para nada extra e vamos para o salão da igreja vizinha. Três chaves. Dois cadeados. Abre te !!! O mistério da esfinge é pagar um aluguel.
Cheguei ao pátio da escola e os miúdos estavam em polvorosa. Em gráfico... Impossível delinear vetores. Eu ali cheia de coisas. Olhei para o céu e suplique: morto, vivo, morto, vivo, morto, vivo. Deu-se o milagre. Eles me cercaram. Quietos. Atentos. Pré expressivos! Quesito indispensável para o ator de acordo com a antropologia teatral de Eugenio Barba.
Desisti de controlar... Eu me entreguei à experiência. Fui feliz. E... Quando o foco não acontece começo a latir e rosnar... Como uma louca... Ai quantos risos... Ai quanta vida... Extremamente louca e feliz. E me pergunta um miúdo... A professora é real ou é teatro? Pois agora... Cantamos... Dançamos. Criamos cenas... Experimentamos planos... Ai quantas coisas fizemos... Era o segundo dia e se fosse para fazer a lista de conteúdos trabalhados... O leite esparrama e ninguém desliga o fogo. De dentro de gente sai tanta coisa. Eu assumi várias coisas... E disse: quem escolheu vir que venha. E se veio que viva. E se vive questiona, argumenta, pergunta, concorda e discorda. E se não quer viver que não venha. Eu ficarei histérica, louca e chata e descontrolada se estiverem aqui e não quiserem estar aqui. Reflitam e fiquem em casa. Tem muitas coisas para fazerem em casa. Enumerei... Despedimos-nos. No encontro numero dois se multiplicaram os miúdos. Que mistério é esse?
Aprender a partir de uma motivação pessoal. Uma escolha. Eles assumiram a responsabilidade. Eles escolheram. Escolha, motivação, sujeito. Este caldo como ponto de partida. Será que da para ser assim sempre? Na escola (aquela obrigação) da para dialogar assim? Desculpa. É que tudo vira uma nova pergunta... Peguei gosto por perguntar... E nada se generaliza...
Sou um risco dando aula. Canto. Falo baixo. Conto histórias. Sou vozes, movimentos, alegria. Talvez nunca tenha assumido tanto a responsabilidade pelos encontros. Mas não é assim pensado e friamente calculado. É bonito. Sou eu...
Vamos apresentar final do ano. Temos um projeto em comum agora. Estou mergulhada e entusiasmada com nossa proposta. Será que eles também? “Estamos todos indiscutivelmente ligados pelo fato de que o outro é, em relação a nós, o que somos em relação a ele” afirma Merleau Ponty. Mas afinal o que somos em relação as nossas crianças? De que forma olhamos para elas?
Renata Ferreira
Um comentário:
Oi Meninas!!
Como andam a correria ai com o Ser com Arte??
Vamos combinar umas conversas para colocar as coisas em dia, eim?!!
beijão da
GrEe
e da Traço
bjs
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