Todos os dias eu durmo com uma certeza. E acordo com várias dúvidas. Isso quando eu durmo com alguma certeza. O que é quase nunca. Mas com as dúvidas eu acordo sempre. Elas me acompanham. Elas visitam os meus sonhos... Acordo! As dúvidas me desacomodam. Impossível continuar dormindo. Elas geram impulsos que me causam deslocamentos. Saio correndo, vivendo, infinitamente. Portanto a única certeza que tenho, é quando as dúvidas acontecem em mim. Aí, faço arte. O resto? Não sei.
Por um tempo achei que fosse possível fazer arte nos outros. Aí me dei conta de que só posso fazer arte nos outros, quando faço arte em mim. Então me vejo criando um picadeiro. Junto pessoas que penso precisarem de processos artísticos: professores.. Ta, mas... e eles querem? Bem, no processo eles vão descobrir que... a arte é transformadora, vão redimensionar suas ações, descobrir outras possibilidade de comunicação, criar uma nova pedagogia. (?)
Os meus vividos e as pesquisas apontam a falta da arte nos processos de formação dos indivíduos. Os professores não tiveram ou pouco tiveram a oportunidade de fruição em sua formação. A arte pode expandir a percepção e transformar os processos de educação. Pra que? Por que crio esse circo? Talvez pra descobrir que, os momentos em que algo aconteceu entre eu e eles, foram justamente aqueles em que me assumi atriz. Quando, mesmo que em poucos minutos, entrei em cena, disse algumas palavras de alguém, contei uma estória. Nesse momento, percebo que toquei o ponto que desejava. A solidão, o vazio, condição de toda a existência. Essência! Algo que não se consegue exprimir com palavras. Fica um silêncio preenchido pairando no ar. Os olhos estalam, brilham. Descubro então, que criei todo esse circo, para acessar minha alma. E que ela se manifesta na arte, e não na sala de aula. Ou, se ela se manifesta em sala de aula, é quando faço arte.
Então no momento seguinte a esse estalar de olhos, ela me olha e pergunta: "Pra que serve isso?" Precisa servir? ... Não tem cabimento... Buscam em mim uma certeza, porque se sentem inseguras no vazio das dúvidas. Então descubro que realmente não sei. Tudo que sei, é que outra dúvida pipoca em mim. Aí, faço arte. Essa arte gera novos impulsos.
Mariene Perobelli
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